A Tragédia do Passado



Por: Alessandro Caldeira






Há alguns anos existe uma interminável discussão questionando a qualidade de jogos de tempos mais remotos do futebol.
A questão, no entanto, acirrou-se, principalmente agora em período de crise onde nos refugiamos aos jogos passados para que não sintamos o vazio de um dia sem uma partida.
Mas alguns, portadores do ópio da modernidade, dizem: a facilidade que se tinha no passado permitia que mais liberdade para nascer um craque.
Tenho a impressão de que o passado, para eles, é como uma festa dionisíaca onde o sacrifício, no final, é o nascimento.
Sim, o analista esportivo e seus séquitos rejeitam o próprio nascimento. Mas, eis uma explicação: o que acontece é que lhes faltam o entendimento dos dias atuais.
A todo momento, esses tipos gritam para algum jogo desse século: “Olha como jogam... É a evolução!” e continuam gritando como quem está tendo espasmos devido a um orgasmo contínuo, insistente e longínquo até serem notados.
E se eles não forem notados? Ah, meus amigos, aí eles se colocam raivosos como o assassino de Abraham Lincoln, capaz de arrombar nossa porta, apontar uma arma na nossa cabeça e exigir que sejam declarados heróis nacionais por profetizarem uma evolução que nunca chega.
E nunca chega porque, no momento atual, não existe a modernidade que eles pregam. Na novidade, meus amigos, a única coisa existente é a eternidade.
Não somos capazes de evolucionar um livro de Flaubert, Kafka, Dostoévski ou Suassuna. Do mesmo modo, não evolvemos o futebol de Pelé, Garrincha, Maradona ou Cruyff.
Quando escrevemos há um escritor do passado nos acompanhando, assim como quando nosso jogador contemporâneo chuta uma bola: há sempre um jogador de outros tempos conduzindo-o.
Isso ocorre porque o elo entre o passado, presente e futuro já está consolidado pelos centenários.
Permita-me parafrasear Walter Benjamin: o tempo tradicional é pontuado por acontecimentos que capturam recordações e nos fazem retornar à existência.
Portanto, eu afirmo que o momento que negamos o passado, estamos repelindo a nós mesmos como fruto de algo que nasceu.

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