Jogou finalmente a Argentina, que poucas vezes na história ganhou tantos adeptos quanto nessa edição da Copa do Mundo no Catar.
Em todos os lugares houve alguém anunciando antecipadamente o jogo dos Hermanos: “hoje eu começo a sonhar”, diz a pessoa que jura nunca ter tido um sonho nesses últimos quatro anos. O que seria o sonho? É alguma coisa lhe pregando os olhos te impedindo de acordar? O sonho, então, não me parece a melhor de nossas experiências.
As pessoas, no entanto, ainda acreditam mais nos sonhos do que em suas próprias experiências, esse tem sido um dos motivos pelo qual o futebol continua a ser um espetáculo.
Lembro-me, por exemplo, de uma cena onde uma pessoa se debatia na cama e todos acreditavam que ela estava tendo uma convulsão. Quando ela voltava a si, revelava que era apenas um sonho. “Com o que você estava sonhando?”, perguntavam.
Ela dizia: “sonhei que estava cega e mesmo que pudessem tirar aquilo que me cegava eu ainda era incapaz de enxergar”. Conclui-se que provavelmente tenha ocorrido ao torcedor argentino o mesmo caso nesses últimos quatro anos: nada era capaz de acordá-los porque tinham buracos ao em vez de olhos.
Alguns acreditavam que essa era a estreia da Copa, na verdade, já haviam se passado quatro jogos. Foi a maneira que encontraram para não dar na cara que a atração principal chegaria depois de uma longa abertura. É possível, portanto, que no dia 22 de novembro tenha sido registrado o maior número de pessoas saindo de um coma.
Eis a questão: ficarão elas em paz ao descobrirem que esse é o primeiro torneio sem Maradona? Uma faixa diz: “Um Mundial sem Maradona é como uma dança sem garotas”.
Seria assim que os grandes jogadores nascem para a torcida, como diria Milan Kundera, a partir de uma metáfora? Sim. Está mais do que comprovado que o amor tem mais a ver com a sua forma, como, por exemplo: “te notei quando apertou a minha mão de tal maneira” ou então: “ só te beijei porque houve cuidado no beijo”. O craque pode ter surgido para a torcida a partir de um toque na bola ou de como “vestiu a camisa’’.
Mas, a verdade, é que o grande defeito da terra é que ela é um lugar que não nos dá experiência o suficiente porque só se vive uma vez, nada volta atrás. Maradona já criou, inventou e reinventou as surpresas que o mundo é capaz de suportar.
O que a Argentina quer, porém, é atravessar as fronteiras que um dia o seu craque divino atravessou, aquele em que apenas o personagem de romance e o grande jogador é capaz de ultrapassar porque o homem comum tem medo de olhar para as próprias mazelas.
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