A Vaia e o Milagre

Jogadores do Vasco superam a crise, o torcedor e eles mesmos para golear o São Paulo em um São Januário vazio.


Alessandro Caldeira

Vasco e São Paulo protagonizaram um verdadeiro duelo shakespeariano em São Januário, na noite de ontem. Enquanto o time paulista parecia não ter exatamente convicção sobre o que fazer em campo, os cariocas tinham uma ideia clara: provar à torcida, ao futuro técnico - que ainda não sabemos quem será - e a eles mesmos que o time tem o seu valor.

 Durante o jogo, tive a impressão de que o São Paulo não esperava um Vasco tão concentrado, motivado e intenso. O Tricolor paulista, especialmente no 1º tempo, tentou encaixar alguns contra-ataques através das jogadas de Lucas Moura e Rodrigo Nestor, mas esbarravam na defesa focada vascaína. O São Paulo, porém, ainda no começo do jogo conseguiu abrir o placar com André Silva, depois de um cruzamento de Nestor que encontrou o atacante para cabecear firme, no ângulo do gol do goleiro Léo Jardim. Porém, parou por aí. 

Mas a partir desse acontecimento, o torcedor vascaíno - que estava em um número bem menor no estádio do que o habitual devido ao protesto contra a má fase do time - passou a criticar duramente o zagueiro Maicon, como se ele fosse o próprio Judas. 

Aliás, durante quase metade do 1º tempo, o zagueiro vascaíno teve de travar uma verdadeira batalha particular com sua torcida. Ele estava cometendo alguns erros, um pouco indeciso sobre o que fazer em campo - um dos motivos para o torcedor se sentir tão frustrado com seu defensor -, mas diante das vaias ficou provado, através dele, que o Vasco não iria se entregar ao seu maior rival: o torcedor. 

Após uma semana de cobranças e contestações da torcida quanto à qualidade e comprometimento de seus jogadores, Maicon foi a personificação de resiliência e mostrou o quanto o psicológico é importante para o jogador de futebol. Ao longo do jogo, o contestado foi aplaudido, como se a torcida tivesse se rendido a um duelista mais forte. O futebol é mesmo uma guerra. 

O São Paulo, por sua vez, fez um jogo assustado. Apenas seu camisa 7 estava lúcido em campo. O time que começou no contra-ataque e até levando certo perigo ao adversário, terminou o jogo com uma das piores posses de bola do campeonato do ponto de vista qualitativo. Foram 59% de posse, mas apenas desenhavam no campo. Os meio-campistas, Luiz Gustavo e Galoppo, não davam opção, tampouco se movimentavam para ajudar seu principal jogador. 

Depois da saída de Rodrigo Nestor por lesão, o São Paulo não teve sua válvula de escape para punir a pressão do Vasco. No 2º tempo, Zubeldia tentou retomar essa qualidade com Ferreirinha, que ficava sozinho contra 2 ou 3 marcadores vascaínos. Dessa forma, ficou fácil para o time carioca liquidar a partida com um chute improvável de seu lateral, Leandrinho, que contou com uma falha de um Jandrei assustado. O placar de 4 a 1 mostrou, mais uma vez, que o problema do jogador brasileiro não é técnico nem tático, é motivacional.


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