Momento do primeiro gol da Seleção com Garrincha infernizando o lado esquerdo da defesa sueca |
pós uma
série de fracassos da Seleção Brasileira, principalmente na final do famoso “maracanazzo”
onde todas as esperanças eram postas na Canarinho, toda torcida do Brasil
parecia não ter mais em quê acreditar nos jogadores que defendiam a camisa do seu
País.
Era natural,
portanto, que qualquer jogador que entrasse em campo com a dura missão de
defender o verde e amarelo seria apenas uma complementação para se formar onze jogadores.
Para a
torcida nada mais significava ter o melhor futebol e reunir jogadores
talentosos, assim como aconteceu na Copa de 1958, em Estocolmo.
A
tradição de “seleção perdedora” por conta de tal desesperança, mesmo com os
jogos amistosos do Brasil antes daquela Copa, onde a exibição foi maior que a esperada,
desencadeou o termo “complexo de vira-latas” eternizada pelo cronista Nelson
Rodrigues.
Por
causa desse cenário, muitas coisas mudaram na delegação brasileira, onde passou
a ser mais organizada. Primeiro realizando o já citado amistosos contra Corinthians,
Bulgária, Fiorentina e Inter de Milão.
Vicente
Feola
|
Além
disso, a entidade havia nomeado Vicente Feola como treinador da equipe que organizou
os bastidores da sua equipe impondo algumas regras como, por exemplo, proibir os
jogadores de fumarem em público com os trajes da seleção brasileira ou, então,
falar com a imprensa fora do local estabelecido.
No
entanto, ao longo da disputa da Taça Jules Rimet, a seleção ainda precisaria enfrentar
uma outra barreira que não poderia ser quebrada sem a faixa de campeã: a do racismo.
Isso porque o mito criado naquela época em torno das derrotas consecutivas era
a de que os jogadores negros eram as consequências de tal destino.
Então, para
que o título viesse, de fato, para o Brasil, Vicente Feolla implementou outras
mudanças, dessa vez técnica: colocou Pelé, Garrincha e Zito que, no começo da
competição estavam na reserva.
Diz a
lenda, inclusive, de que Didi, Nilton Santos e Gylmar teriam pressionado o treinador
a colocar Pelé e Garrincha, com o argumento de que eles possuíam qualidade
técnica e não sentiriam tanto o peso da camisa.
A história
nunca foi confirmada, todavia, o fato é que no jogo contra a URSS eles foram
titulares e o Brasil teve uma exibição de gala.
Porém,
houve uma mudança tática na equipe que sugere uma melhor adaptação dos
jogadores daquela época: a transição do W.M para o 4-2-4.
A
alteração imposta na seleção beneficiava o estilo de jogos dos atletas brasileiros,
que eram vistos como “indisciplinados”, portanto, não conseguiam se adequar ao
modelo europeu rígido que exigia a marcação individual.
O novo esquema
tático favorecia os jogadores brasileiros porque dava condições para a marcação
em zona. Além disso, Pelé, que seria o ponta de lança da equipe, reunia os elementos
necessários para essa posição: qualidade para se associar com o centroavante, além
da criatividade e o poderoso arremate.
Algo até
mais importante que isso foi a liberdade que o 4-2-4 oferecia ao declarado indisciplinado
Garrincha, uma vez que Zagallo recuava para compensar os espaços deixados no
campo pelo camisa 11 enquanto estava brincando com a bola e os adversários.
Imagem:
Eduardo Cecconi
Mas era
capaz de perceber, ainda, um certo nervosismo da seleção, algumas oscilações
que até eram naturais devido às circunstâncias daquela Copa. Contra a Suécia,
não foi diferente.
Todos sabiam
que a seleção era superior, assim como contra o Uruguai em 50, além do mais, era
a chance de o escrete canarinho aplicar o feito que a seleção celeste realizou
no Brasil ao ser campeão em cima da anfitriã.
No entanto,
surge outro problema: a seleção precisaria trocar a cor da camisa para que não se
confundisse com a camisa sueca, na qual também era amarela.
Temendo
a reação dos jogadores perante à superstição de jogar com a camisa branca, mesma
cor da final de 50, a delegação resolveu recomendar a fabricação das camisas azuis
e Paulo Machado de Carvalho utilizou-se do recurso psicológico em dizer que era
a cor do manto da “Padroeira do Brasil”.
Brasil antes
da Copa de 1958
|
Só que
logo aos 4’, os suecos abriram o placar depois de um inicio nervoso da seleção
onde os pés ainda pareciam não ter encontrado o nível do chão. Porém, Didi,
dono da equipe e maestro pela sua qualidade em reger o meio campo, pegou a bola
dentro do gol e foi caminhando até o centro do gramado.
A lenda
diz que o craque da camisa seis havia proferido as seguintes palavras aos seus
companheiros: “vamos encher esses gringos!’. Como tudo nessa Copa, essa fala ficou
apenas no folclore.
Didi com
a bola debaixo do braço
|
Entretanto,
a equipe realmente estabeleceu-se em campo rival, ditou o ritmo e foi ganhando
superioridade.
Primeiro
com Vavá, aos 9’, após uma bela jogada de Garrincha fazendo com o que a defesa
rival parecesse uma criança marcando-o. Depois, o mesmo Vavá, aos 32’, viraria
para o Brasil.
No segundo
tempo, porém, não houve adversário para o Brasil, até o técnico da Suécia estava
se rendendo à irreverência, indisciplina e genialidade dos craques da seleção,
onde declarou “que passou a ficar com medo de começar a torcer para o Brasil”.
Portanto,
aos 10’, Pelé resolveu dar o tom da exibição brasileira com a famosa jogada chapelando
o zagueiro e fuzilando para o gol. Uma pintura.
Com
muita velocidade, toques de bola, combinação de jogadas: “Pelé, que toca para
Vavá, enxerga Didi e volta para Vavá”, os dribles de Garrincha que chegava ao
meio campo para ficar “dançando” com o adversário, o Brasil foi aumentando o
placar: Zagallo aos 23’, ao pegar o rebote da defesa sueca.
A Suécia
ainda havia de diminuir o placar aos 35’ com uma bela jogada, mas a vitória foi
sacramentada assim que Pelé marcou o quinto gol de cabeça.
Enfim, o
apito final chegou. Pelé saiu chorando, Garrincha, como sempre, polêmico,
declarando que a Copa do Mundo era um campeonato “mixuruca” porque
não tinha nem returno e o zagueiro Bellini eternizando o gesto de erguer a taça
acima da cabeça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário