Suécia 2 x 5 Brasil e/ou Da Indisciplina dos Craques

Momento do primeiro gol da Seleção com Garrincha infernizando o lado esquerdo da defesa sueca
Por: Alessandro Caldeira_


A
pós uma série de fracassos da Seleção Brasileira, principalmente na final do famoso “maracanazzo” onde todas as esperanças eram postas na Canarinho, toda torcida do Brasil parecia não ter mais em quê acreditar nos jogadores que defendiam a camisa do seu País. 

Era natural, portanto, que qualquer jogador que entrasse em campo com a dura missão de defender o verde e amarelo seria apenas uma complementação para se formar onze jogadores.

Para a torcida nada mais significava ter o melhor futebol e reunir jogadores talentosos, assim como aconteceu na Copa de 1958, em Estocolmo.  

A tradição de “seleção perdedora” por conta de tal desesperança, mesmo com os jogos amistosos do Brasil antes daquela Copa, onde a exibição foi maior que a esperada, desencadeou o termo “complexo de vira-latas” eternizada pelo cronista Nelson Rodrigues.

Por causa desse cenário, muitas coisas mudaram na delegação brasileira, onde passou a ser mais organizada. Primeiro realizando o já citado amistosos contra Corinthians, Bulgária, Fiorentina e Inter de Milão.

Vicente Feola
Além disso, a entidade havia nomeado Vicente Feola como treinador da equipe que organizou os bastidores da sua equipe impondo algumas regras como, por exemplo, proibir os jogadores de fumarem em público com os trajes da seleção brasileira ou, então, falar com a imprensa fora do local estabelecido.

No entanto, ao longo da disputa da Taça Jules Rimet, a seleção ainda precisaria enfrentar uma outra barreira que não poderia ser quebrada sem a faixa de campeã: a do racismo. Isso porque o mito criado naquela época em torno das derrotas consecutivas era a de que os jogadores negros eram as consequências de tal destino.  

Então, para que o título viesse, de fato, para o Brasil, Vicente Feolla implementou outras mudanças, dessa vez técnica: colocou Pelé, Garrincha e Zito que, no começo da competição estavam na reserva.

Diz a lenda, inclusive, de que Didi, Nilton Santos e Gylmar teriam pressionado o treinador a colocar Pelé e Garrincha, com o argumento de que eles possuíam qualidade técnica e não sentiriam tanto o peso da camisa.

A história nunca foi confirmada, todavia, o fato é que no jogo contra a URSS eles foram titulares e o Brasil teve uma exibição de gala.

Porém, houve uma mudança tática na equipe que sugere uma melhor adaptação dos jogadores daquela época: a transição do W.M para o 4-2-4.

A alteração imposta na seleção beneficiava o estilo de jogos dos atletas brasileiros, que eram vistos como “indisciplinados”, portanto, não conseguiam se adequar ao modelo europeu rígido que exigia a marcação individual.

O novo esquema tático favorecia os jogadores brasileiros porque dava condições para a marcação em zona. Além disso, Pelé, que seria o ponta de lança da equipe, reunia os elementos necessários para essa posição: qualidade para se associar com o centroavante, além da criatividade e o poderoso arremate.

Algo até mais importante que isso foi a liberdade que o 4-2-4 oferecia ao declarado indisciplinado Garrincha, uma vez que Zagallo recuava para compensar os espaços deixados no campo pelo camisa 11 enquanto estava brincando com a bola e os adversários.


Imagem: Eduardo Cecconi
Mas era capaz de perceber, ainda, um certo nervosismo da seleção, algumas oscilações que até eram naturais devido às circunstâncias daquela Copa. Contra a Suécia, não foi diferente.

Todos sabiam que a seleção era superior, assim como contra o Uruguai em 50, além do mais, era a chance de o escrete canarinho aplicar o feito que a seleção celeste realizou no Brasil ao ser campeão em cima da anfitriã.

No entanto, surge outro problema: a seleção precisaria trocar a cor da camisa para que não se confundisse com a camisa sueca, na qual também era amarela.

Temendo a reação dos jogadores perante à superstição de jogar com a camisa branca, mesma cor da final de 50, a delegação resolveu recomendar a fabricação das camisas azuis e Paulo Machado de Carvalho utilizou-se do recurso psicológico em dizer que era a cor do manto da “Padroeira do Brasil”.


Brasil antes da Copa de 1958


Só que logo aos 4’, os suecos abriram o placar depois de um inicio nervoso da seleção onde os pés ainda pareciam não ter encontrado o nível do chão. Porém, Didi, dono da equipe e maestro pela sua qualidade em reger o meio campo, pegou a bola dentro do gol e foi caminhando até o centro do gramado.

A lenda diz que o craque da camisa seis havia proferido as seguintes palavras aos seus companheiros: “vamos encher esses gringos!’. Como tudo nessa Copa, essa fala ficou apenas no folclore.

Didi com a bola debaixo do braço



Entretanto, a equipe realmente estabeleceu-se em campo rival, ditou o ritmo e foi ganhando superioridade.

Primeiro com Vavá, aos 9’, após uma bela jogada de Garrincha fazendo com o que a defesa rival parecesse uma criança marcando-o. Depois, o mesmo Vavá, aos 32’, viraria para o Brasil.

No segundo tempo, porém, não houve adversário para o Brasil, até o técnico da Suécia estava se rendendo à irreverência, indisciplina e genialidade dos craques da seleção, onde declarou “que passou a ficar com medo de começar a torcer para o Brasil”.

Portanto, aos 10’, Pelé resolveu dar o tom da exibição brasileira com a famosa jogada chapelando o zagueiro e fuzilando para o gol. Uma pintura.  

Reportagem do Fantástico: Gol de Pelé 

Com muita velocidade, toques de bola, combinação de jogadas: “Pelé, que toca para Vavá, enxerga Didi e volta para Vavá”, os dribles de Garrincha que chegava ao meio campo para ficar “dançando” com o adversário, o Brasil foi aumentando o placar: Zagallo aos 23’, ao pegar o rebote da defesa sueca.

A Suécia ainda havia de diminuir o placar aos 35’ com uma bela jogada, mas a vitória foi sacramentada assim que Pelé marcou o quinto gol de cabeça.

Enfim, o apito final chegou. Pelé saiu chorando, Garrincha, como sempre, polêmico, declarando que a Copa do Mundo era um campeonato “mixuruca” porque não tinha nem returno e o zagueiro Bellini eternizando o gesto de erguer a taça acima da cabeça.


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