Futebol do Pretérito
O Troféu Ramón de Carranza contou com quatro
equipes: Cádiz, PSV, Real Madrid e São Paulo
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A
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ssim
como muitos estão fazendo, também decidi assistir a alguns jogos durante a quarentena
e expressar algumas impressões sobre a partida a qual acompanhei. No entanto, não estou escolhendo
nenhum campeonato específico, o critério é apenas um: partidas que se tornaram
clássicas ou, então, aquela que eu sinto ser interessante.
Um dos
primeiros jogos que assisti, então, foi a final entre Real Madrid x São Paulo
pelo Troféu Ramón de Carranza em 1992, uma espécie de amistoso com cara de competição
em tiros curtos: semifinal e final, onde o campeão levava o troféu de mesmo
nome.
O
torneio é realizado desde 1955 na cidade de Cádiz, promovido pelo time local, o
Cádiz FC. O Atlético de Madrid é o maior campeão dessa competição com oito
conquistas.
O
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time comandado pelo saudoso Telê Santana vivia
em estado de graça, porque antes da conquista do torneio Carranza, o tricolor
havia sido campeão da Libertadores contra o Newell’s Old Boy em junho de 1992 e,
também, ocorria a vitória diante do Barcelona por 4 a 1, mas pelo Troféu Tereza
Herrera, em La Coruña).
O São
Paulo iria enfrentar uma equipe espanhola que contava com o zagueiro Hierro, o atacante
chileno Zamorano e a maior referência técnica, o meia tcheco Prosinečki.
Este
último, inclusive, foi o jogador que mais deu trabalho à defesa tricolor, sobretudo
nos primeiros minutos de partida. Com boas movimentações e apoios para receber
a bola e ser o dono da equipe com a sua privilegiada desenvoltura para criar
chances, foi o principal criador de jogadas dos Merengues.
Prosinečki,
a finta em palhinha
Com um jogador
como o camisa 10 tcheco, o Real Madrid acionava seu ataque rapidamente, ora verticalizando,
ora jogando pelos flancos, de preferência pelo lado direito com o jogador Llorente.
É
importante ressaltar, aqui, que a década de 90 foi assinalada por uma marcação intensa
já que a maioria das equipes marcavam individualmente o adversário, isso exigia
uma concentração e qualidade física diferenciada para suportar os 90 minutos de
jogo.
E esse
aspecto foi o destaque do São Paulo, a defesa que era composta por Vitor, Adilson,
Ronaldão e Iván esteve muito bem quando se encontrava em apuros, principalmente
com o seu lateral-direito, Vitor.
Vitor
foi o pilar da defesa, com ótimas intervenções, anulando as jogadas pelas
laterais do Real Madrid, o que acabou sendo um problema para os espanhóis, uma
vez que as principais jogadas estavam sendo pelos lados.
Por
isso, para escapar da marcação, o time espanhol fazia alguns lançamentos dos quais,
também, não surtiram efeito. Até que a equipe começou a optar por jogar na
direita, na qual localizava-se Llorente, provavelmente para escapar de Vítor,
porém, também não funcionou.
Nem Prosinečki,
o jogador mais criativo da equipe cuja qualidade foi comparada a Rivelino por
Juarez Soares suportou a ótima atuação defensiva dos visitantes, desaparecendo
do jogo gradativamente como a um animal adestrado, pois era isso que Vítor
fazia a quem ousasse atacar pelo seu lado: domava a todos.
Com a
segurança de seu lateral, o São Paulo podia desfrutar de seus jogadores de
criação, Palhinha, Raí, Müller e Elivelton. No entanto, lembra do trecho acima
sobre a marcação nos anos 90 ser intensa? O São Paulo fez uso disso para
pressionar a saída de bola do Real com o goleiro Juanmi que se atrapalhou e
entregou de graça para que o tricolor pudesse abrir o placar com Elivelton.
O primeiro
tempo, mesmo com a expulsão do atacante Zamorano, o jogo do São Paulo foi muito
mais de controlar as ações do Real Madrid do que partir para o ataque, talvez
pelo fato de que a equipe pudesse estar se preservando para apresentar seu verdadeiro
futebol no segundo tempo.
Isso
porque, o Real Madrid como se tivesse tomado consciência de que estava com um a
menos, sofreu com as descidas do São Paulo, e o tricolor paulista entrou na defesa
espanhola de várias maneiras.
Primeiro
através de um lançamento onde Raí teve toda calma para matar a bola no peito e
fazer com que ela caísse tranquilamente na sua frente, se livrando do zagueiro e
tocando para o gol.
Depois
disso, a defesa do Real Madrid, enfim, mostrou o quanto estava perdida e sem
sintonia ao ver a equipe de Telê Santana avançar com tamanha facilidade. Elivelton
pegou a bola pela esquerda e foi trazendo para dentro da área e chutou fraco,
com sorte, o goleiro Juanmi, símbolo das más execuções defensivas dos Merengues,
soltou a bola nos pés de Muller que só empurrou.
Com a
liberdade que o São Paulo foi encontrando, com o sistema defensivo adversário
cada vez mais cristalina para os jogadores, o time pôde ter, enfim, seu estado
de graça e harmonia trocando passes rápidos no meio campo, com todos os jogadores
se aproximando da bola e transformando o jogo num verdadeiro espetáculo.
Para coroar
a exibição, ainda deu tempo de Muller sacramentar o jogo abusando, mais uma vez,
dos equívocos da marcação madrilenha e com um excelente recurso técnico para
deixar com que a bola apenas se projetasse à sua frente, apenas tocou por baixo
do goleiro Juanmi.
O jogo acaba
com um notável domínio são paulino que ao final dessa temporada, foi campeão
mundial frente ao Barcelona de Cruyff.
Os quatro gols do São Paulo
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